Diferenças entre edições de "Experiência de Millikan"

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Determinação experimental da relação \(q/m\) do electrão
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<big>Estimativa da carga eléctrica de gotículas de óleo electrizadas em suspensão num fluido</big>
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{|class="wikitable" style="background-color:#ccddff;"
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| Não consegue ver as equações correctamente? Mude https para http no endereço desta página e recarregue.
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=Objectivo do trabalho=
 
=Objectivo do trabalho=
Pretende-se com este trabalho determinar a relação entre a carga e a massa \(q/m\) do electrão. Para esse fim, vamos estudar a deflexão de um feixe de raios catódicos sob o efeito de um campo eléctrico e de um campo magnético.
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[[File:MI-RAMillikan.jpeg|thumb|upright=0.5|Robert A. Millikan]]
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Pretende-se com este trabalho determinar a [https://pt.wikipedia.org/wiki/Carga_el%C3%A9trica carga eléctrica] de pequenas gotas de óleo, tendo como objetivo final mostrar que a carga eléctrica não aparece com uma quantidade qualquer mas sempre como um múltiplo de uma unidade fundamental: a [https://pt.wikipedia.org/wiki/Carga_do_el%C3%A9tron carga do electrão]. Deste modo, um corpo electrizado apresenta um excesso de carga de sinal positivo ou negativo, mas cuja valor é sempre um múltiplo do valor da carga elementar
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#ddffdd;" |\(q_{ele}= -1,602176634\cdot 10^{-19}\) \(\mathrm{C}\).
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=Conceitos fundamentais=
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Traduz-se este facto dizendo-se que a carga eléctrica é ''quantizada''.
Os [https://pt.wikipedia.org/wiki/Raio_cat%C3%B3dico raios catódicos] foram descobertos em 1879 por [https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Crookes William Crookes] (1832-1919), mas foi [https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_John_Thomson Sir J. J. Thomson]<ref>Prémio Nobel da Física de 1906, em reconhecimento dos seus trabalhos teóricos e experimentais na condução da electricidade em gases.</ref> (1856-1940) que, em 1897, relatou as experiências por si realizadas e que permitiram determinar o valor daquela relação. Além disso, estas experiências provaram que os raios catódicos são constituídos por partículas de carga negativa, desde então designadas por [https://pt.wikipedia.org/wiki/El%C3%A9tron electrões]. Neste trabalho iremos reproduzir aproximadamente a experiência de Thomson.
 
  
==Campo electrostático==
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Dentro das várias experiências elaboradas para mostrar este facto, uma montagem clássica é a do físico americano [https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Andrews_Millikan Robert A. Millikan] (1869-1953), que recebeu o prémio Nobel da Física em 1923 pelos seus trabalhos sobre a determinação da carga do electrão e [https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_fotoel%C3%A9trico efeito fotoeléctrico]. Esta experiência é também chamada [https://pt.wikipedia.org/wiki/Experi%C3%AAncia_da_gota_de_%C3%B3leo experiência da gota de óleo]. O método usado na experiência pode ser resumido nos seguintes passos:
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* Estudar a queda de pequenas gotículas de óleo electrizadas sob acção simultânea da gravidade e de um campo eléctrico uniforme
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* Determinar a força de gravidade (calcular a velocidade limite)
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* Determinar a força eléctrica (cancelar com força de gravidade)
  
Define-se como sendo o campo eléctrico criado por uma distribuição de cargas que ''não evolui no tempo''. Considere-se por exemplo o par de cargas \(q_1\) e \(q_2\) imersas no vácuo, à distância \(r_{12}\) e situadas respetivamente em \(P_1\)e \(P_2\) conforme ilustrado na figura à direita. A força eléctrica que sofre \(q_1\)no ponto \(P_1\)devido a \(q_2\)em \(P_2\)à distância \(r_{12}\)é
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=Conceitos fundamentais=
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==Corpo esférico em queda livre num fluido==
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[[file:MI-gotas-chuva.png|thumb|upright=1.0 |alt=Gotas de chuva. |As gotas de chuva em queda livre adquirem naturalmente uma forma esférica.]]
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[[file:millikan-graph.png|thumb|upright=1.0 |alt=Evolução da velocidade de um corpo em queda livre sujeito a uma força de atrito. |Fig. 1 - Evolução da velocidade de um corpo em queda livre sujeito a uma força de atrito.]]
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Um corpo de dimensões muito pequenas<ref>Com [https://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_Reynolds número de Reynolds] \(Re= \frac{\rho v L}{\eta}\) inferior a \(\simeq 100\)</ref>, ao mover-se com uma velocidade relativamente baixa através de um fluido (líquido ou gás), fica sujeito a uma [https://pt.wikipedia.org/wiki/Atrito força de atrito] aproximadamente proporcional à sua velocidade, modelada pela expressão:
  
[[file:fig1-thomson.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Definição dos termos para a geometria de duas cargas |Definição dos termos para a geometria de duas cargas]]
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math>\mathbf{F}_{at} = - k \, \eta \mathbf{v}</math>|| \(\quad\quad (1)\)
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<math display="block">
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em que \(\eta\) é o coeficiente de [https://pt.wikipedia.org/wiki/Viscosidade viscosidade] do fluido, \(\mathbf{v}\) é a velocidade do corpo e \(k\) é um coeficiente que depende da forma do corpo, que no caso deste ser uma esfera de raio \(R\) toma o valor ([https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Stokes lei de Stokes]):
\begin{equation}
 
\mathbf{F}_{P_1,q_1} (q_2, r_{1 2} ) =\frac{1}{4 \pi \varepsilon_0}\frac{q_1 q_2}{r_{1 2}^2} \hat{\mathbf{u}}_{r,P_1} =
 
- \mathbf{F}_{P_2,q_2} (q_1, r_{1 2} )
 
\label{eq:eq1}
 
\end{equation}
 
</math>
 
  
em que \(\varepsilon_0\) é designada por constante dieléctrica ou permitividade eléctrica do vazio (\(\varepsilon_0 \simeq 8.854 \cdot 10^{-12}\)F/m) e \(\hat{\mathbf{u}}_{r,P_1}\) é o ''versor'' da distância \(r_{1 2}\) no ponto \(P_1\) (vector unitário dirigido de \(P_2\) para \(P_1\), ver figura).
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math> k = 6 \pi R</math>|| \(\quad\quad (2)\)
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Dada uma carga \(q_1\) e um ponto \(P\) a uma distância \(r\), define-se o ''campo eléctrico'' \(\mathbf{E}\) em \(P\)como a força eléctrica por unidade de carga exercida sobre uma carga de prova ou teste, suposta unitária e positiva, colocada em \(P\):
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O coeficiente \(k\) virá assim expresso em ''metro'' no Sistema Internacional (SI) e o coeficiente de viscosidade em Pa\(\cdot\)s (ou N\(\cdot\)s/m\(^2\)).
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Normalmente a unidade de viscosidade que aparece na literatura é a unidade do sistema C.G.S. (g/cm\(\cdot\)s) que é designada por Poise (abreviatura P), verificando-se então a equivalência:
  
<math display="block">
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
\mathbf{E}_P (q_1, r) = \frac{q_1}{4 \pi \varepsilon_0 r^2} \hat{\mathbf{u}}_{r, P}
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! style="background:#efefef;" |<math>1 \, \mathrm{P} = 0,1\, \mathrm{Pa}\cdot\mathrm{s}</math>
</math>
+
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As unidades do campo eléctrico são o newton/coulomb (N/C) ou, mais habitualmente, o volt/metro (V/m).
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Quando um corpo de massa \(m\) cai em queda livre sob a ação do seu peso \(\mathbf{P}=m\mathbf{g}\) através de um fluido, o seu movimento de queda será abrandado pela força de atrito, e a equação do movimento escreve-se<ref>Uma vez que o movimento de queda ocorre unicamente ao longo do eixo vertical, podemos implicitamente passar da descrição vectorial para uma escalar.</ref>:
  
As linhas de força eléctrica geradas por \(q_1\)são radiais e dirigidas para o exterior, se \(q_1>0\) ou para a origem, se \(q_1<0\). Se se colocasse em \(P\) a carga \(q\), a força eléctrica a que esta carga ficaria submetida devido a \(q_1\) seria \(\mathbf{F}_{P,q} (q_1, r ) = q \mathbf{E}\)
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
ou mais simplesmente:
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! style="background:#efefef;" |<math>ma \equiv m\frac{dv}{dt} =  mg - k\eta v</math>|| \(\quad\quad (3)\)
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<math display="block">
+
A partir de uma velocidade inicial nula, e sendo o peso do corpo constante, a aceleração \(a\) produz um aumento em \(v(t)\) e, por consequência, um aumento na força de atrito \(F_{at}\). Para uma determinada velocidade limite \(v_L\), o segundo membro de (3) anula-se e o corpo passará a deslocar-se com movimento uniforme. A [https://pt.wikipedia.org/wiki/Velocidade_terminal velocidade limite] \(v_L\) será então obtida fazendo \(a= 0\) na equação (3):
\mathbf{F} = q \mathbf{E}
 
</math>
 
  
A expressão ''campo eléctrico'' também define a região do espaço onde se fazem sentir as acções eléctricas.
 
  
==Potencial eléctrico==
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
+
! style="background:#efefef;" |<math>v_L = \frac{m\,g}{k  \, \eta}</math>|| \(\quad\quad (4)\)
O campo eléctrico e a força eléctrica, que são entidades vectoriais, podem também ser calculadas a partir de uma função capaz de descrever o campo mas de natureza escalar, o ''potencial eléctrico'' \(V\). Para a situação referida acima, o potencial eléctrico criado no ponto \(P\) à distância \(r\) da carga \(q_1\) é calculado por:
+
|}
  
<math display=“block”> \label{eq:pot_ele}
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o que poderá ser facilmente constatado pela resolução <ref>Ver notas de apoio às aulas teóricas.</ref> da equação (3), cuja solução é da forma:
V_P (q_1, r) = \frac{q_1}{4 \pi \varepsilon_0 r}
 
</math>
 
  
No caso de uma distribuição de \(n\) cargas eléctricas \(q_i\) à distância \(r_i\) do ponto \(P\) onde se pretende calcular o campo eléctrico e o potencial, tem-se para o campo eléctrico
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math>v(t) = \frac{m\,g}{k  \, \eta} (1 - e^{- (k\,\eta / m) t}) = v_L (1-e^{-t/\tau})</math>|| \(\quad\quad (5)\)
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|}
  
<math display="block">
+
à qual corresponde o gráfico  da Fig. 1, e onde se definiu o tempo característico \(\tau=k\eta/m\). Quando \(t \to \infty\) temos \(v(t) \to v_L = \frac{mg}{k \eta}\).
\mathbf{E}_P = \frac{1}{4 \pi \varepsilon_0 } \sum_{i=1}^n \Big( \frac{q_i}{ r_i^2}\; \hat{\mathbf{u}}_{r_i , P}  \Big)
 
</math>
 
  
e para o potencial
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==Impulsão e peso aparente==
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[[file:MI-Archimedes-principle.png|thumb|upright=1 |alt=Princípio de Arquimedes. |Fig. 2 - Princípio de Arquimedes.]]
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Se pretendermos ser mais rigorosos, devemos substituir  em (4) o peso do corpo pelo seu''peso aparente'' no fluido. De facto, um corpo em queda livre através de um fluido experimenta, além da ação da força de atrito, outra força de baixo para cima cujo módulo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo, de acordo com o [https://pt.wikipedia.org/wiki/Impuls%C3%A3o Princípio de Arquimedes]. A Fig. 2 ilustra este princípio: uma massa \(m=\)5 kg mergulhada em água desloca \(m_a=\)2 kg de água, pelo que o seu peso aparente é \(P=(m-m_a)g\).
  
<math display="block">
+
Assim, as equações (3) e (4) deverão ser modificadas para:
V_P = \frac{1}{4 \pi \varepsilon_0 } \sum_{i=1}^n \Big( \frac{q_i}{ r_i}  \Big) \nonumber
 
</math>
 
  
Recorde-se que se se considera uma única carga \(q_1\) positiva, as linhas de força eléctricas são radiais e dirigidas para o exterior. Essas linhas de força são perpendiculares às ''superfícies equipotenciais'', que são esféricas \((r = \mathrm{c.^{te}})\) na equação \ref{eq:pot_ele}) e concêntricas com as cargas. Atendendo a (\ref{eq:pot_ele}) para dois raios \(r_1\) e \(r_2\) tal que \(r_2 > r_1\) temos \(V(r_2) < V(r_1)\) e portanto as linhas de força dirigem-se para os potenciais decrescentes.
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math>m\,a = m\,g - m_f\,g  - k  \, \eta \, v</math>|| \(\quad\quad (6)\)
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Considere-se agora o caso de duas cargas \(q_1 > 0\) e \(q_2 < 0\). Enquanto estiverem muito afastadas uma da outra, produzem campos radiais, respetivamente divergindo e convergindo. Se forem colocadas suficientemente próximas, as linhas de força vão sofrer a influência de ambas as cargas. Nesse caso, apenas uma única linha de força é linear, dirigida de \(q_1\) para \(q_2\). Todas as outras, que na vizinhança próxima de cada carga são radiais, acabam por infletir, dirigindo-se de \(q_1\) para \(q_2\). A figura das linhas de força tem simetria de revolução em torno do eixo que contém \(q_1\) e \(q_2\) e é esquematicamente a indicada na figura ao lado. Se o valor absoluto das duas cargas for o mesmo a figura é simétrica em relação ao plano mediatriz das cargas \(q_1\) e \(q_2\).<ref>Para mais exemplos ver https://phet.colorado.edu/en/simulations/charges-and-fields</ref>
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math>v_L = \frac{(m - m_f)\,g}{k  \, \eta}</math>|| \(\quad\quad (7)\)
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|}
  
[[file:fig2-thomson.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Linhas de força (a vermelho) e superfícies equipotenciais (a verde) de duas cargas simétricas|Linhas de força (a vermelho) e superfícies equipotenciais (a verde) de duas cargas simétricas]]
+
onde \(m_f\)é a massa do fluido deslocado. No caso de um corpo esférico de raio \(R\), introduzindo a equação (2) em (7) e atendendo a que:
  
Se se calcular a diferença de potencial entre dois pontos infinitamente próximos \(P\) e \(P+dP\) devida a uma carga \(q_1\) à distância \(r\) e \(r+dr\) respetivamente, a variação elementar do potencial \(V\) será:
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{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
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! style="background:#efefef;" |<math>m = \frac{4}{3} \pi R^3 \rho \quad \textrm{  e } \quad  m_f = \frac{4}{3} \pi R^3 \rho_f</math>
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<math display="block">
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obtemos a expressão corrigida para a velocidade limite
d V = V_{P+dP} - V_P = \frac{q_1}{4 \pi \varepsilon_0 r} \big(  \frac{1}{r + dr} -\frac{1}{r} \big) \approx \frac{q_1}{4 \pi \varepsilon_0 } \big(  - \frac{dr}{r^2} \big) = - \mathbf{E} \cdot d \mathbf{r}
 
</math>
 
  
Esta quantidade representa o trabalho elementar (energia) associado ao deslocamento da carga teste (\(q_t=1\,\)C), de \(P\) para \(P+dP\). Para \(q_1 > 0\) \(\mathbf{E}\) e \(\mathbf{dr}\) são paralelos e \(dV < 0\). Isto significa que não será necessário fornecer energia para realizar esse transporte.
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
De facto, afastar a carga teste da carga \(q_1\) (i.e. ir de \(P\) para \(P+dP\)) leva a uma configuração de cargas \(q_1\) e \(q_t\) energeticamente mais favorável.<ref>Recorde-se que para um campo conservativo o trabalho realizado (que não depende do percurso mas só dos pontos inicial e final) tem um valor simétrico da variação de energia potencial.</ref>
+
! style="background:#efefef;" |<math>v_L = \frac{2\,R^2\, (\rho - \rho_f)\,g}{\, \eta}</math>|| \(\quad\quad (8)\)
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|}
  
No caso de uma diferença finita de potencial, isto é de uma diferença de potencial entre dois pontos \(P\) e \(Q\) ter-seque somar um número infinito de contribuições infinitesimais \(dV_i=- \mathbf{E}_i \cdot d\mathbf{r}_i\) no intervalo de \(P\) a \(Q\):
+
em que \(\rho\) e \(\rho_f\)são as massas específicas do corpo e do fluido. Note-se que conhecendo o raio do corpo é pois possível determinar  a sua velocidade limite de queda, e vice-versa.
  
<math display=“block”>
+
==Equilíbrio dum corpo carregado, imerso num fluido, através de um campo eléctrico vertical==
V_Q-V_P  = \lim_{n  \to \infty } \sum_{i=1}^n dV_i = \lim_{n \to \infty } \sum_{i=1}^n \underbrace{( - \mathbf{E}_i \cdot d\mathbf{r}_i )}_{\overline{PQ}} \rightarrow \int - \mathbf{E} \cdot d\mathbf{r}
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[[file:f_equil.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Equilíbrio de forças numa gota sujeita a campos gravítico e eléctrico. |Fig. 3 - Equilíbrio de forças numa gota sujeita a campos gravítico e eléctrico.]]
</math>
+
Considere o esquema representado na Fig. 3, em que um fluido não condutor se encontra entre duas placas condutoras paralelas separadas de uma distância \(d\). Ao aplicar-se uma diferença de potencial \(U = V_1 -V_2 > 0\) com a polaridade indicada na figura, é criado um campo eléctrico ascendente. Se entre as placas se encontrar uma partícula de massa \(m\)e carga positiva <ref>No caso da partícula estar carregada negativamente obteríamos o mesmo resultado invertendo o sentido do campo eléctrico.</ref> \(q\) esta ficará sujeita a uma força eléctrica que contrariará a sua queda.
 +
Na hipótese do campo eléctrico ser uniforme <ref>Nomeadamente, se a distância entre as placas for muito menor que as suas dimensões laterais.</ref> o módulo de \(\mathbf{E}\)e o módulo da força eléctrica \(\mathbf{F}_e\) que atua na partícula serão dados por:
  
\begin{equation*}
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
V_P - V_Q  = \int_{\overline{PQ}}  \mathbf{E} \cdot d \mathbf{r}
+
! style="background:#efefef;" |<math>E = \frac{U}{d}, \qquad F_e = |q| \frac{U}{d}</math>
\end{equation*}
+
|}
  
e porque \(\mathbf{E}\) (campo electrostático) é um campo conservativo, este integral não vai depender do percurso mas apenas dos pontos extremos, i.e.
+
Assim, a queda da partícula será agora contrariada pela força eléctrica e pela força de atrito.
 +
A equação (6) passa a escrever-se:
  
\begin{equation*}
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
V_P - V_Q  = \int_P^Q \mathbf{E} \cdot d\mathbf{r}
+
! style="background:#efefef;" |<math>m\,a = (m - m_f)\,g - q \frac{U}{d} - k  \, \eta_{ar} \, v</math>|| \(\quad\quad (9)\)
\end{equation*}
+
|}
  
No caso particular de \(E\) ser homogéneo (por exemplo no interior de um condensador plano) na região onde se situam os pontos \(P\) e \(Q\) afastados de uma distância \(D\) obtém-se
+
Variando a diferença de potencial (ddp) \(U\), pode-se estabelecer o equilíbrio entre o peso da partícula e a força eléctrica, conseguindo-se a sua paragem entre as placas. Nessa situação, tem-se simultaneamente \(F_{at}=0\), \(a=0\) e \(v\) \(=0\):
  
<math display=“block”>\label{eq:difPot}
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
V_P - V_Q  =  \mathbf{E}\cdot\overline{PQ}=E\cdot D
+
! style="background:#efefef;" |<math>0 = (m - m_f)\,g  - q \frac{U}{d}</math>|| \(\quad\quad (10)\)
</math>
+
|}
  
Para se compreender o significado físico de \(V_P\) imagine-se que \(Q\)é um ponto infinitamente afastado da região em que se faz sentir o campo eléctrico \(\mathbf{E}\).
+
Nesta equação a expressão \((m - m_f)\,g\) pode ser substituída usando a equação (7), obtendo-se:
Nesse ponto, \(r \to \infty\) e \(V_Q=0\) obtendo-se \(V_P =  \int_P^\infty  \mathbf{E} \cdot d\mathbf{r}\) que permite a seguinte interpretação:
 
  
{| class="wikitable"
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
|-
+
! style="background:#efefef;" |<math>v_L\, k\, \eta_{ar} = q \frac{U}{d}</math>
| O potencial eléctrico \(V_P\) é a energia necessária para transportar a carga-teste, sob acção de \(\mathbf{E}\) desde o ponto \(P\) até uma distância suficientemente grande tal que o campo eléctrico não se faça sentir.
 
 
|}
 
|}
  
Assim, \(V\) tem sempre o significado de uma diferença de potencial.
+
E entrando também com a eq. (2) no caso de a partícula ser esférica, obtemos por fim:
  
==Energia electrostática==
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
A energia associada a uma configuração de cargas \(q_1\) e \(q_2\) à distância \(r\) é dada por:
+
! style="background:#efefef;" |<math>q = \frac{6 \pi \, R \, \eta_{ar} \, d\, v_L}{U}</math>|| \(\quad\quad (11)\)
 
+
|}
<math display=“block”>
 
W = \frac{q_1 q_2}{4 \pi \varepsilon_0 r} = q_1 V_1 = q_2 V_2 =  \frac{q_1 V_1 +q_2 V_2}{2}
 
</math>
 
 
 
em que \(V_1\) é o potencial no ponto \(P_1\) criado pela carga \(q_2\) e \(V_2\) é o potencial no ponto \(P_2\) criado pela carga \(q_1\).
 
 
 
Recordando a definição do potencial criado por \(n\) cargas eléctricas, podemos generalizar a equação (\ref{eq:enrPot}) na seguinte forma:
 
 
 
<math display=“block”>
 
W_E =  \frac{1}{2} \sum_{i,j (i\ne j)}^n \frac{ 1 }{4 \pi \varepsilon_0} \frac{ q_i \, q_j }{r_{i\,j}}  =
 
\frac{1}{2} \sum_{i=1}^n q_i \left( \sum_{j \ne i}^n \frac{ q_j }{4 \pi \varepsilon_0 \,r_{i\,j}} \right) =
 
\frac{1}{2} \sum_{i=1}^n q_i V_i
 
</math>
 
 
 
que corresponde à energia necessária para criar a distribuição de cargas \(q_i\). A energia \(W_E\) é uma energia potencial porque está associada às posições que as diferentes cargas ocupam, podendo ser recuperada se as cargas se afastarem umas das outras até distâncias \(r \to \infty\).
 
 
 
==Condutores eléctricos e dieléctricos. Condensador plano==
 
 
 
[[file:fig-thomson-placa.jpg|thumb|upright=0.5 |alt=Distribuição da carga num condutor carregado |Distribuição da carga num condutor carregado]]
 
[[file:fig-thomson-placas.jpg|thumb|upright=0.5 |alt=Distribuição de cargas e forma do campo eléctrico num condensador |Distribuição de cargas e forma do campo eléctrico num condensador]]
 
 
 
Um material é um ''condutor eléctrico ideal'' se as cargas eléctricas do mesmo sinal em excesso (que o carregam) são livres de se movimentarem no seu interior e à sua superfície. Quando pelo contrário isso não acontece, estamos perante um ''dieléctrico''.
 
 
 
Assim, se carregarmos um condutor com uma carga total \(Q\) (se \(Q > 0\) significa que se retiram electrões ao condutor inicialmente neutro) essas cargas, todas do mesmo sinal, vão acomodar-se logo que se atinja o equilíbrio electrostático, em posições que são o mais afastadas possíveis umas das outras -- ou seja, na superfície exterior do condutor, formando uma "folha" de carga. Pode mostrar-se que \(\mathbf{E}\) no interior do condutor é nulo (enquanto que num dieléctrico \(\mathbf{E} \ne 0\), e que a superfície do condutor é uma ''equipotencial'': logo, as linhas de força eléctricas são-lhe perpendiculares. Quando um material é carregado, a velocidade com que essas cargas se transferem de todo o volume do condutor para a superfície depende da sua condutividade. Se se considerar um condutor carregado, com geometria plana (uma placa), a carga vai distribuir-se sobre a superfície (ver ilustração).
 
 
 
Ao colocar-se em frente uma placa idêntica, mas de carga simétrica, haverá uma redistribuição de carga que produz um campo eléctrico tal como ilustrado em baixo. Na região central, as linhas de força são paralelas entre si e o campo eléctrico é homogéneo. Nas extremidades as linhas de força emergem perpendicularmente à superfície mas encurvam, deixando de ser lineares. Esta geometria e distribuição de carga são características de um ''condensador plano''. A diferença de potencial entre as duas placas, afastadas de \(D\) corresponde a \(V_+ \,–\, V_-) = \mathbf{E}\cdot \mathbf{D}\) pois
 
\(\mathbf{E}\) é homogéneo (eq. \ref{eq:difPot}).
 
 
 
Pode mostrar-se que \(\mathbf{E}\) fica confinado à região entre as placas. Se o condensador fosse infinito (sem extremidades) teríamos três regiões, as duas exteriores ao condensador, onde o campo \(\mathbf{E}\) é nulo, e entre as placas do condensador (também designadas por armaduras), onde o campo seria homogéneo.
 
 
 
==Efeitos da corrente eléctrica estacionária criada por uma espira==
 
[[file:fig-fio.jpg|thumb|upright=0.5 |alt=Campo magnético produzido por um fio onde passa corrente |Campo magnético produzido por um fio onde passa corrente]]
 
[[file:fig-espira.jpg|thumb|upright=0.5 |alt=Campo magnético produzido por uma espira circular onde passa corrente |Campo magnético produzido por uma espira circular onde passa corrente]]
 
 
 
A passagem da ''corrente eléctrica estacionária'' (i.e. cuja intensidade não varia no tempo) por um condutor cria um campo magnético \(\mathbf{B}\) além de produzir calor por efeito de Joule. As ''linhas de força magnética'' produzidas por um fio condutor linear são circulares e concêntricas com o condutor (ver figura). O módulo de \(B\) num ponto a uma distância \(r\)do fio (medida na perpendicular ao fio) é
 
 
 
<math display=“block”>
 
|\mathbf{B_{\mathrm{fio}}}| = \frac{\mu_0 I}{2\, \pi \, r}
 
</math>
 
 
 
em que \(\mu_0 =  4 \pi× 10^{−7}\)H/m é a ''permeabilidade magnética'' do vazio.
 
 
 
 
 
 
No caso de uma espira <ref>Termo que designa um circuito eléctrico fechado</ref> circular, é criado um campo magnético cujas linhas de força são curvas fora do seu eixo e lineares apenas ao longo do eixo. Pode provar-se que o campo magnético criado por uma espira de raio \(r\) percorrida por uma corrente de intensidade \(I\) tem linhas de força fechadas <ref>Mesmo aquelas que só ''fecham'' no infinito</ref>, ao contrário das linhas de força eléctricas. Isto coloca em evidência que \(\mathbf{B}\) nos pontos do plano da espira, mas exteriores a esta, é antiparalelo a \(\mathbf{B}\) no eixo da espira (ver figura). O módulo de \(\mathbf{B}\) num ponto do eixo é dado por
 
 
 
<math display=“block”>
 
|\mathbf{B}_{\mathrm{espira}}| = \frac{\mu_0 I}{2 r} \sin^3 \alpha
 
</math>
 
 
 
==Força de Lorentz==
 
[[file:Lorentz1.png|thumb|upright=0.5 |alt=Trajectória circular para uma carga positiva \(q\) com velocidade \(\mathbf{v}\)n a presença de um campo magnético \(\mathbf{B}_{in}\) perpendicular. |Trajectória circular para uma carga positiva \(q\) com velocidade \(\mathbf{v}\) na presença de um campo magnético \(\mathbf{B}_{in}\) perpendicular.]]
 
 
 
[[file:Lorentz2.png|thumb|upright=0.5 |alt=Carga positiva \(q\) com velocidade \(\mathbf{v}\) na presença de um campo magnético \(\mathbf{B}_{in}\) e um campo eléctrico \(\mathbf{E}\). Os três vectores são mutuamente perpendiculares e estão orientados de modo que as forças têm sentidos opostos. |Carga positiva \(q\) com velocidade \(\mathbf{v}\) na presença de um campo magnético \(\mathbf{B}_{in}\) e um campo eléctrico \(\mathbf{E}\). Os três vectores são mutuamente perpendiculares e estão orientados de modo que as forças têm sentidos opostos.]]
 
 
 
Uma carga \(q\) animada de uma velocidade \(\mathbf{v}\) numa região em que existe um campo de indução \(\mathbf{B}\) e um campo eléctrico \(\mathbf{E}\) fica submetida a uma força de Lorentz<ref>Se a força for apenas de origem magnética,
 
\(\mathbf{F}_m =  q\,(\mathbf{v} \times \mathbf{B})\) pode chamar-se também de ''Laplace''</ref> \(\mathbf{F}\) dada por:
 
 
 
<math display=“block”>
 
\mathbf{F} = q\mathbf{E} + q(\mathbf{v} \times \mathbf{B})
 
</math>
 
 
 
A força de Lorentz resulta da soma vectorial de uma componente eléctrica e uma componente magnética, que verificam as seguintes propriedades:
 
 
 
# a força eléctrica \(\mathbf{F_e}=q\mathbf{E}\) tem a mesma direção que o campo eléctrico; se a carga for positiva tem o mesmo sentido, se a carga for negativa tem o sentido oposto;
 
# a força magnética \(\mathbf{F_e}=q(\mathbf{v} \times \mathbf{B})\) é perpendicular ao plano definido pelos vectores velocidade \((\mathbf{v})\) e campo magnético \((\mathbf{B})\) sendo o seu sentido dado pela regra da mão direita para o produto externo de vectores.
 
 
 
Quando a velocidade da carga e o campo magnético são mutuamente perpendiculares, a força magnética comporta-se como uma força centrípeta e a carga descreve uma trajectória circular (ver figura}) cujo raio se pode calcular igualando os módulos das duas forças \((|\mathbf{F_c}|=|\mathbf{F_m})|\):
 
 
 
<math display=“block”>
 
m\frac{v^2}{R}=qvB \rightarrow R=\frac{mv}{|q|B}
 
</math>
 
 
 
Um caso particularmente interessante da força de Lorentz verifica-se quando a velocidade da carga é perpendicular tanto ao campo eléctrico como ao magnético. Nesse caso, as duas forças têm a mesma direcção. Adotando uma configuração como a representada na figura à direita, as forças eléctrica e magnética têm sentidos opostos e podem compensar-se, anulando-se, o que permite que a carga mantenha uma trajectória rectilínea.
 
 
 
Nesta repetição da experiência de Thomson iremos utilizar estes dois princípios para determinar a razão \(q/m\). Num primeiro conjunto de medidas, iremos determinar o raio da trajectória de um feixe de raios catódicos na presença de um campo magnético. No segundo conjunto de medidas iremos equilibrar as forças de um campo magnético e um eléctrico de modo a que o feixe tenha uma forma aproximadamente rectilínea.
 
  
=Figuras dos aparelhos da montagem experimental=
+
onde entram as seguintes grandezas
  
 
{| class="wikitable"
 
{| class="wikitable"
|+ Vista do aparelho de Thomson
 
 
|-
 
|-
| <center>[[file:fig3-ThomsomEquip.jpg|thumb|]] </center>|| [[file:fig4-Thomson_Electron-Deflection-Tube-D.jpg|thumb|]]
+
! Símbolo !! Valor !! Descrição
 +
|-
 +
| \(v_L\) || A medir || Velocidade limite de queda da partícula através do fluido, na ausência de campo eléctrico
 +
|-
 +
| \(\eta_{ar}\) || 18,52\(\cdot\)10\(^{-5}\) P  =18,52\(\cdot\)10\(^{-6}\) Pa\(\cdot\)s || Viscosidade do ar a 23\(^{\circ}\) C
 +
|-
 +
| \(\rho\) || 973 kg/m\(^{3}\) || Massa específica do óleo de silicone
 +
|-
 +
| \(\rho_f\) || 1 kg/m\(^{3}\) || Massa específica do ar
 +
|-
 +
| \(g\) || 9,80 m/s\(^{2}\) || Aceleração gravítica em Lisboa
 
|-
 
|-
| Montagem da Experiência de Thomson com tubo de raios catódicos, suporte e par de bobinas de Helmholtz || Trajectória dos electrões sujeitos a um campo magnético perpendicular
+
| \(d\) || A medir || Distância entre placas
 
|}
 
|}
  
=Procedimento Experimental=
+
==Correções==
==Material==
+
===Temperatura ambiente===
  
[[file:fig5-TuboTL.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Diagrama do tubo utilizado e geometria das bobinas de Helmholtz. Esquerda: vista lateral, com ligações eléctricas do filamento e da tensão de aceleração. Direita: vista frontal, com ligações das bobinas de Helmholtz. |Diagrama do tubo utilizado e geometria das bobinas de Helmholtz. Esquerda: vista lateral, com ligações eléctricas do filamento e da tensão de aceleração. Direita: vista frontal, com ligações das bobinas de Helmholtz.]]
+
No caso da temperatura ambiente se afastar muito de 23\(^{\circ}\) C, o valor  da viscosidade do ar terá de ser corrigido.<ref>Utilize por exemplo a calculadora ''online'': http://www.lmnoeng.com/Flow/GasViscosity.htm</ref>
  
# Ampola (tubo) de raios catódicos (TRC), [https://www.3bscientific.com/pt/tubo-de-desvio-de-eletrons-d-1000651-u19155-3b-scientific-teltron,p_1003_1349.html modelo TEL 525].
+
===Dimensão das gotas===
# Fonte de alimentação do TRC, que inclui alimentação de alta tensão contínua (até 5000 V) aplicada aos eléctrodos (cátodo e ânodo) do TRC e alimentação de baixa tensão (6.3 V AC) para o filamento do TRC.
 
# Par de bobinas que envolvem a parte esférica do TRC na configuração de Helmholtz (para criar um campo magnético aproximadamente homogéneo na região central entre as bobinas, de raio médio\(r\) e afastadas de\(r\)uma da outra).
 
# Fonte de alimentação de corrente '''contínua''' (em modo DC) para as bobinas.
 
# Multímetro (como amperímetro) a instalar em '''série''' no circuito das bobinas.
 
  
O tubo TRC tem um filamento alimentado por 6.3 V (em modo AC). Este filamento emite electrões por efeito termiónico.
+
A Lei de Stokes não é exata quando as dimensões dos corpos esféricos forem comparáveis à distância média entre as moléculas do ar. Nestas condições, Millikan verificou que a viscosidade \(\eta_{ar}\)deveria ser substituída por:
Entre o ânodo e o cátodo do tubo estabelecem-se diferenças de potencial \( (V_+ - V_-) = U_a\). Os electrões são acelerados entre o cátodo e o ânodo e a sua velocidade à saída do ânodo é função de \(U_a\).
 
  
Ao entrarem na parte esférica do tubo, os electrões podem ser deflectidos por ''campos magnéticos'' provocados por correntes que percorrem as bobinas de Helmholtz e/ou por ''campos eléctricos'' devidos à aplicação de tensão entre duas placas paralelas ligadas aos pontos 1 e 2 do diagrama (ver figura).
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
 +
! style="background:#efefef;" |<math>\eta_{ar}' = \frac{\eta_{ar}}{1 + b/(p\,R)}</math>|| \(\quad\quad (12)\)
 +
|}
  
O campo de indução magnética \(B\) devido às bobinas de Helmholtz é aproximadamente uniforme na região central entre as bobinas, e para uma corrente \(I\) é dado por <ref>No sistema SI, a unidade de campo magnético é o Tesla (T), sendo
+
em que a constante \(b=7,88\cdot 10^{-3}\) Pa\(\cdot\)m, \(p\) é pressão atmosférica expressa em pascal e \(R\) é o raio da gota em metros. O valor corrigido \(q'\) será determinado a partir do valor experimental \(q\) por
1 T=1 Weber/m\(^2\).</ref>:
 
<math>
 
B = \left(\frac{4}{5}\right)^{3/2} \cdot \frac{\mu_0 n I}{r} = \frac{32 \pi n }{5 \sqrt{5}} \cdot \frac{I}{r} \cdot 10^{-7}\textrm{ Weber/m}^{2}
 
</math>
 
  
onde \(n = 320\) espiras, \(r= 0.068\) m e \(r = d/2\).
+
{| border="0" cellpadding="5" cellspacing="0" align="center"
 +
! style="background:#efefef;" |<math>q' = q\, \left(\frac{\eta_{ar}'}{\eta_{ar}}\right)^{3/2}  =q\, \left(\frac{1}{1 + b/(p\,R)}\right)^{3/2}</math>|| \(\quad\quad (13)\)
 +
|}
  
==Determinação de \(q/m\) por deflexão magnética==
+
=Figuras dos aparelhos da montagem experimental=
===Trajectórias de partículas carregadas sujeitas a um campo magnético constante===
 
Quando se aplica uma tensão \(U_a\)entre o ânodo e o cátodo (sem aplicar tensão entre os pontos 1 e 2 representados na figura acima), pode admitir-se que a velocidade final \(v\) dos electrões ao abandonarem o ânodo é dada pela seguinte expressão
 
 
 
<math>
 
q\, U_a = \frac{1}{2} m \, v^2
 
</math>
 
 
 
em que \(q\) é a carga do electrão e\(m\)a sua massa.
 
 
 
Os electrões entram, com velocidade horizontal, na parte esférica do tubo, onde são deflectidos pelo campo magnético \(\mathbf{B}\) (com \(\mathbf{B}\perp\mathbf{v})\). A sua trajectória passa então a ser circular, com raio \(R\) verificando-se:
 
 
 
<math>
 
B \, q\, v = \frac{m\,v^2}{R}
 
</math>
 
 
 
As trajectórias dos electrões podem ser visualizadas numa escala graduada feita de material fluorescente. A origem do reticulado está situada aproximadamente no início da zona sujeita ao campo \(\mathbf{B}\). Combinando (\ref{eq:encin11}) e (\ref{eq:encin12}) obtém-se uma expressão para a relação \(q/m\):
 
  
 
{| class="wikitable"
 
{| class="wikitable"
 +
|+ Vista do aparelho de Millikan
 +
|-
 +
| [[file:U131001_01_Aparelho-de-Millikan.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Equipamento para determinação da carga das gotas.]] || [[file:U13105-230_01_Aparelho-operacional-de-Millikan.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Gerador de alta tensão DC regulável.]]
 
|-
 
|-
| <math>
+
| Fig. 4 - Equipamento para determinação da carga das gotas. || Fig. 5 - Gerador de alta tensão DC regulável.
\frac{q}{m} = \frac{2\, U_a}{B^2\,R^2}
 
</math>
 
 
|}
 
|}
  
 +
=Procedimento experimental=
  
em que:
+
==Material==
*\(U_a\) – impõe-se e mede-se diretamente no voltímetro da fonte de tensão.
 
*\(B\) – calcula-se, para uma dada corrente \(I\) a partir da expressão (\ref{eq:helmotz}).
 
*\(R\) – determina-se por leitura no écran fluorescente, das coordenadas de posição \(y\) (horizontal) e \(z\) (vertical) de pontos do feixe. Por construção do tubo verifica-se:
 
  
<math> R = \frac{y^2 + z^2}{2 \, z}
+
* Célula de Millikan com gerador de alta tensão DC regulável
</math>
+
* Atomizador e óleo de silicone
 +
* Cronómetro
 +
* Nível de bolha de ar
  
===Modo de proceder===
+
{|class="wikitable" style="background-color:#ffcccc;"
 +
| [[file:Electrocution-Safety.png|thumb|upright=0.5]] || '''Atenção:''' Este trabalho envolve o uso de fontes de alta tensão (até 500 V DC). Assegure-se de que cumpre rigorosamente as medidas de segurança com equipamentos eléctricos, em particular:
 +
* Compreenda os [https://pt.wikipedia.org/wiki/Choque_el%C3%A9trico riscos inerentes] a tensões e correntes elevadas
 +
* Não pegue nos cabos ou conectores pela partes condutoras, apenas pelas partes isoladas
 +
* Assegure-se de que as fontes de tensão e corrente estão dsligadas antes de efectuar qualquer alteração nas montagens eléctricas
 +
* Em caso de dúvida, chame o docente
 +
|}
  
# Montar os circuitos eléctricos de acordo com a figura acima na secção [[Experiência_de_Thomson#Material|Material]]. Note que as ligações das bobinas devem garantir que a corrente eléctrica é percorrida no mesmo sentido, em ambas: para isso, deve usar os conectores na ordem \(A\rightarrow Z\) numa bobina e na ordem inversa na outra bobina. Chamar o docente para verificação, '''antes de ligar os aparelhos'''.
+
==Trabalho preparatório==
# Verifique qual é o valor máximo da tensão disponível na fonte de alta tensão. Escolha um valor ligeiramente inferior.
+
# Preencha os objectivos do trabalho que irá realizar na sessão de laboratório.  
# Ajustar a corrente das bobinas de Helmholtz \(I_+\) de modo a que a circunferência passe por um ponto bem determinado. <ref>Utilize de preferência os maiores valores possíveis para o raio \(R\) de forma a que o feixe se encontre na zona central entre as bobines.</ref>  Calcule \(R\). Inverta o sentido da corrente e determine um novo \(I_-\) para o mesmo raio \(R\). Tomando \(I_{\textrm{medio}} = (I_+ + I_-)/2\), calcule o campo magnético \(B_{\textrm{medio}}\). Utilize a semi-diferença, \((I_+ - I_-)/2\) para a estimativa das incertezas \(\delta I_{\textrm{medio}}\) e \(\delta B_{\textrm{medio}}\).
+
# Preencha o quadro com as equações necessárias para o cálculo das grandezas, bem como as suas incertezas.
# Repita o ponto 2) para quatro novos valores de\(R\).
+
# Desenhe um diagrama das forças a que uma gota está sujeita durante a experiência. Após a experiência, acrescente uma estimativa dos valores dessas forças usando valores típicos obtidos durante a experiência, e anexe tudo ao relatório final.
# Repetir 1), 2) e 3)  e para os mesmos \(R\) para dois valores inferiores de tensão, afastados por exemplo de 500 V entre si.
 
# Apresente os valores de \(q/m\) para os 15 pares de determinações. Calcule a média desses valores, assim como a incerteza da média.
 
# Para um dos pares de pontos, estime a contribuição relativa das incertezas das grandezas que mediu para a incerteza total. Compare este erro assim calculado com a incerteza calculada a partir dos 15 valores calculados. Apresente para cada raio o valor de \(q/m\) assim como o erro associado a cada uma das determinações. Compare e comente os resultados.
 
# Apresente um valor final para \(q/m\). Estime a precisão e a exatidão obtida nas determinações que realizou.
 
  
==Determinação de \(q/m\) por deflexão magnética e eléctrica quase compensada==
+
==Montagem experimental==
 +
Efectue a montagem de acordo com a Fig. 6. Chame o professor antes de ligar os aparelhos à corrente eléctrica.
  
===Situação de equilíbrio entre as interacções eléctrica e magnética===
+
[[file:Esquema-Millikan.jpg|thumb|Fig. 6 - Esquema da montagem da experiência de Millikan. 1 - Célula de Millikan; 2 - lâmpada; 3 - gerador de alta tensão regulável; 4 - cronómetro.]]
  
Se, na força de Lorentz, os dois termos se equilibrarem — ou seja, se as forças electrostática e magnética forem de igual módulo e de sentidos opostos — a carga \(q\) não é desviada da sua trajectória. No nosso caso, em que \(\mathbf{B} \perp \mathbf{v}\), a condição de equilíbrio é dada por <math> |\mathbf{E}| = v\, |\mathbf{B}|</math>.
+
==Determinação da tensão de equilíbrio==
 
+
# Depois de verificar que a célula está horizontal, meça o distância entre placas, \(d\). Tente focar o microscópio na zona onde as gotas irão "flutuar". Atenção: o microscópio amplia a imagem e a escala por 2\(\times\).
===Montagem a efectuar===
+
# Coloque o potenciómetro que controla a alimentação das placas do condensador no valor mínimo de tensão eléctrica.  
 
+
# Verifique se o interruptor de inversão da alimentação do condensador está na posição "Neutra". Rode o potenciómetro para uma posição que permita, quando ligar o interruptor de inversão, estabelecer um campo eléctrico entre as placas do condensador.  
[[file:fig6-TuboTLE.jpg|thumb|upright=1.0 |alt=Deflexão magnética e eléctrica quase compensada: ligações eléctricas do filamento, da tensão de aceleração e das placas. |Deflexão magnética e eléctrica quase compensada: ligações eléctricas do filamento, da tensão de aceleração e das placas.]]
+
# Utilizando o pulverizador junto do orifício da célula, produza uma pequena "nuvem" de gotículas de óleo. Observe através do microscópio o movimento das gotículas em frente do retículo, ajustando a focagem se necessário.
 
+
# Ligando o interruptor e variando a intensidade  e o  sentido do campo eléctrico, verifique se existem gotículas eletrizadas.  
Aproveitando a montagem já efectuada no ponto anterior, ligue agora os terminais no topo e na base da âmpola (ver figura) à fonte de alta tensão que gera a tensão \(U_a\) produzindo assim na região do écran fluorescente um campo eléctrico. Fazendo com que as bobinas sejam percorridas por uma corrente com intensidade e "sentido" convenientes, podemos obter uma força de origem magnética anti-paralela à provocada pelo campo\(\mathbf{E}\). Deste modo, a trajectória visualizada no écran será aproximadamente retilínea, sendo a condição de equilíbrio dada por:
+
# Escolha uma das gotas e, ajustando a tensão, manipule a sua posição vertical de modo a que esta fique colocada numa determinada divisão do topo do retículo, imobilizando-a de seguida. Registe o valor da tensão.
 
+
==Determinação da velocidade limite e da carga==
<math>
+
<ol>
\label{eq:equil2}
+
<li value="7"> Anule o campo eléctrico  e verifique que a gota cai sob acção da gravidade (com velocidade limite).
|\vec{E}| = v\, |\vec{B}| = \frac{U_a}{d}
+
Com um cronómetro, meça o tempo necessário para que a gota percorra  \(N>4\) divisões do retículo. </li>
</math>
+
<li> Repondo o campo eléctrico, conduza a gota para a posição inicial para  medir o tempo pelo menos duas vezes.</li>
 
+
<li> Troque de posição com o colega para repetir este processo para várias gotas, tentando escolher as gotas de menor carga.</li>
onde \(d\) é a distância entre as placas do écran fluorescente e \(U_a\) a tensão entre as mesmas, que é como se disse igual à tensão de aceleração. A equação acima permite-nos calcular a velocidade dos electrões, uma vez que podemos conhecer os valores de todas as outras variáveis aí intervenientes. O conhecimento de \(v\) permite-nos calcular \(q/m\) tendo em conta que, segundo <math>qU_a=mv^2/2</math>, deverá ser:
+
<li> Para cada gota, calcule a velocidade limite média e a respectiva incerteza, usando esse valor para estimar o raio e a carga. Calcule a carga corrigida pela viscosidade.</li>
 
+
<li> De modo a obter resultados mais fiáveis, tente assegurar-se de que as diversas gotas apresentam valores experimentais diferentes. Duas gotas com valores da velocidade limite e raio muito semelhantes têm provavelmente a mesma carga, pelo que deverá repetir as medições para uma gota diferente.</li>
<math>
+
<li> Considere a expressão acima (Eq. 11) para a carga da gota e pondere quais as características ideais para obter resultados significativos, isto é, que contribuam para os objectivos da experiência. As gotas deverão ter \(R\) grande ou pequeno? A velocidade-limite deve ser grande ou pequena? E a tensão aplicada? Use estes critérios para decidir se vale a pena completar as medições para uma dada gota, após as medições preliminares.
\frac{q}{m} = \frac{v^2}{2} \; \frac{1}{U_a}
+
</ol>
</math>
 
 
 
Eliminando o termo <math>v</math> obtemos finalmente:
 
 
 
{| class="wikitable"
 
|-
 
| <math>\frac{q}{m} = \frac{1}{2} \; \frac{U_a}{B^2\; d^2} </math>
 
|}
 
  
===Modo de proceder===
+
==Análise, conclusões e comentários finais==
 +
Discuta a qualidade dos dados obtidos e as conclusões que pode retirar desta experiência. Comente também sobre as condições de realização da experiência, dos equipamentos utilizados e a influência de erros aleatórios e sistemáticos, identificando-os. Supondo que não conhecia o valor tabelado da carga do electrão, e apenas a partir dos resultados obtidos, poderá tirar conclusões sobre a quantificação da carga eléctrica?
  
# Para cada uma das quatro tensões de trabalho \(U_a\)já referidas, aplicadas agora também às placas que produzem o campo eléctrico, determine o valor de \(B\) (a partir de \(I\) que conduz ao anulamento das forças de origem eléctrica e magnética.
+
=Notas=
# Inverta o sentido dos campos eléctricos e magnéticos e repita a determinação do valor de \(B\).
+
<references />
# Apresente os valores de \(q/m\). Analise as diferentes contribuições para a incerteza total. Estime o valor da relação carga/massa do electrão, assim como a precisão e a exatidão obtida nas determinações que realizou.
 
#  Observe  a  trajectória  quando  as  forças  de origem eléctrica e magnética não se compensam. Comente.
 
  
= Notas =
+
=Ligações externas=
 +
* [https://www.youtube.com/watch?v=tPeXBrzsnxg The Millikan Experiment] Visualização das gotas de óleo numa experiência de Millikan
 +
* [https://www.youtube.com/watch?v=nwnjYERS66U Millikan Oil Drop Experiment Animation] Animação da experiência de Thomson

Edição atual desde as 16h09min de 10 de março de 2025

Estimativa da carga eléctrica de gotículas de óleo electrizadas em suspensão num fluido

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Objectivo do trabalho

Robert A. Millikan

Pretende-se com este trabalho determinar a carga eléctrica de pequenas gotas de óleo, tendo como objetivo final mostrar que a carga eléctrica não aparece com uma quantidade qualquer mas sempre como um múltiplo de uma unidade fundamental: a carga do electrão. Deste modo, um corpo electrizado apresenta um excesso de carga de sinal positivo ou negativo, mas cuja valor é sempre um múltiplo do valor da carga elementar

\(q_{ele}= -1,602176634\cdot 10^{-19}\) \(\mathrm{C}\).

Traduz-se este facto dizendo-se que a carga eléctrica é quantizada.

Dentro das várias experiências elaboradas para mostrar este facto, uma montagem clássica é a do físico americano Robert A. Millikan (1869-1953), que recebeu o prémio Nobel da Física em 1923 pelos seus trabalhos sobre a determinação da carga do electrão e efeito fotoeléctrico. Esta experiência é também chamada experiência da gota de óleo. O método usado na experiência pode ser resumido nos seguintes passos:

  • Estudar a queda de pequenas gotículas de óleo electrizadas sob acção simultânea da gravidade e de um campo eléctrico uniforme
  • Determinar a força de gravidade (calcular a velocidade limite)
  • Determinar a força eléctrica (cancelar com força de gravidade)

Conceitos fundamentais

Corpo esférico em queda livre num fluido

Gotas de chuva.
As gotas de chuva em queda livre adquirem naturalmente uma forma esférica.
Evolução da velocidade de um corpo em queda livre sujeito a uma força de atrito.
Fig. 1 - Evolução da velocidade de um corpo em queda livre sujeito a uma força de atrito.

Um corpo de dimensões muito pequenas[1], ao mover-se com uma velocidade relativamente baixa através de um fluido (líquido ou gás), fica sujeito a uma força de atrito aproximadamente proporcional à sua velocidade, modelada pela expressão:

[math]\mathbf{F}_{at} = - k \, \eta \mathbf{v}[/math] \(\quad\quad (1)\)

em que \(\eta\) é o coeficiente de viscosidade do fluido, \(\mathbf{v}\) é a velocidade do corpo e \(k\) é um coeficiente que depende da forma do corpo, que no caso deste ser uma esfera de raio \(R\) toma o valor (lei de Stokes):

[math] k = 6 \pi R[/math] \(\quad\quad (2)\)

O coeficiente \(k\) virá assim expresso em metro no Sistema Internacional (SI) e o coeficiente de viscosidade em Pa\(\cdot\)s (ou N\(\cdot\)s/m\(^2\)). Normalmente a unidade de viscosidade que aparece na literatura é a unidade do sistema C.G.S. (g/cm\(\cdot\)s) que é designada por Poise (abreviatura P), verificando-se então a equivalência:

[math]1 \, \mathrm{P} = 0,1\, \mathrm{Pa}\cdot\mathrm{s}[/math]

Quando um corpo de massa \(m\) cai em queda livre sob a ação do seu peso \(\mathbf{P}=m\mathbf{g}\) através de um fluido, o seu movimento de queda será abrandado pela força de atrito, e a equação do movimento escreve-se[2]:

[math]ma \equiv m\frac{dv}{dt} = mg - k\eta v[/math] \(\quad\quad (3)\)

A partir de uma velocidade inicial nula, e sendo o peso do corpo constante, a aceleração \(a\) produz um aumento em \(v(t)\) e, por consequência, um aumento na força de atrito \(F_{at}\). Para uma determinada velocidade limite \(v_L\), o segundo membro de (3) anula-se e o corpo passará a deslocar-se com movimento uniforme. A velocidade limite \(v_L\) será então obtida fazendo \(a= 0\) na equação (3):


[math]v_L = \frac{m\,g}{k \, \eta}[/math] \(\quad\quad (4)\)

o que poderá ser facilmente constatado pela resolução [3] da equação (3), cuja solução é da forma:

[math]v(t) = \frac{m\,g}{k \, \eta} (1 - e^{- (k\,\eta / m) t}) = v_L (1-e^{-t/\tau})[/math] \(\quad\quad (5)\)

à qual corresponde o gráfico da Fig. 1, e onde se definiu o tempo característico \(\tau=k\eta/m\). Quando \(t \to \infty\) temos \(v(t) \to v_L = \frac{mg}{k \eta}\).

Impulsão e peso aparente

Princípio de Arquimedes.
Fig. 2 - Princípio de Arquimedes.

Se pretendermos ser mais rigorosos, devemos substituir em (4) o peso do corpo pelo seupeso aparente no fluido. De facto, um corpo em queda livre através de um fluido experimenta, além da ação da força de atrito, outra força de baixo para cima cujo módulo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo, de acordo com o Princípio de Arquimedes. A Fig. 2 ilustra este princípio: uma massa \(m=\)5 kg mergulhada em água desloca \(m_a=\)2 kg de água, pelo que o seu peso aparente é \(P=(m-m_a)g\).

Assim, as equações (3) e (4) deverão ser modificadas para:

[math]m\,a = m\,g - m_f\,g - k \, \eta \, v[/math] \(\quad\quad (6)\)
[math]v_L = \frac{(m - m_f)\,g}{k \, \eta}[/math] \(\quad\quad (7)\)

onde \(m_f\)é a massa do fluido deslocado. No caso de um corpo esférico de raio \(R\), introduzindo a equação (2) em (7) e atendendo a que:

[math]m = \frac{4}{3} \pi R^3 \rho \quad \textrm{ e } \quad m_f = \frac{4}{3} \pi R^3 \rho_f[/math]

obtemos a expressão corrigida para a velocidade limite

[math]v_L = \frac{2\,R^2\, (\rho - \rho_f)\,g}{9 \, \eta}[/math] \(\quad\quad (8)\)

em que \(\rho\) e \(\rho_f\)são as massas específicas do corpo e do fluido. Note-se que conhecendo o raio do corpo é pois possível determinar a sua velocidade limite de queda, e vice-versa.

Equilíbrio dum corpo carregado, imerso num fluido, através de um campo eléctrico vertical

Equilíbrio de forças numa gota sujeita a campos gravítico e eléctrico.
Fig. 3 - Equilíbrio de forças numa gota sujeita a campos gravítico e eléctrico.

Considere o esquema representado na Fig. 3, em que um fluido não condutor se encontra entre duas placas condutoras paralelas separadas de uma distância \(d\). Ao aplicar-se uma diferença de potencial \(U = V_1 -V_2 > 0\) com a polaridade indicada na figura, é criado um campo eléctrico ascendente. Se entre as placas se encontrar uma partícula de massa \(m\)e carga positiva [4] \(q\) esta ficará sujeita a uma força eléctrica que contrariará a sua queda. Na hipótese do campo eléctrico ser uniforme [5] o módulo de \(\mathbf{E}\)e o módulo da força eléctrica \(\mathbf{F}_e\) que atua na partícula serão dados por:

[math]E = \frac{U}{d}, \qquad F_e = |q| \frac{U}{d}[/math]

Assim, a queda da partícula será agora contrariada pela força eléctrica e pela força de atrito. A equação (6) passa a escrever-se:

[math]m\,a = (m - m_f)\,g - q \frac{U}{d} - k \, \eta_{ar} \, v[/math] \(\quad\quad (9)\)

Variando a diferença de potencial (ddp) \(U\), pode-se estabelecer o equilíbrio entre o peso da partícula e a força eléctrica, conseguindo-se a sua paragem entre as placas. Nessa situação, tem-se simultaneamente \(F_{at}=0\), \(a=0\) e \(v\) \(=0\):

[math]0 = (m - m_f)\,g - q \frac{U}{d}[/math] \(\quad\quad (10)\)

Nesta equação a expressão \((m - m_f)\,g\) pode ser substituída usando a equação (7), obtendo-se:

[math]v_L\, k\, \eta_{ar} = q \frac{U}{d}[/math]

E entrando também com a eq. (2) no caso de a partícula ser esférica, obtemos por fim:

[math]q = \frac{6 \pi \, R \, \eta_{ar} \, d\, v_L}{U}[/math] \(\quad\quad (11)\)

onde entram as seguintes grandezas

Símbolo Valor Descrição
\(v_L\) A medir Velocidade limite de queda da partícula através do fluido, na ausência de campo eléctrico
\(\eta_{ar}\) 18,52\(\cdot\)10\(^{-5}\) P =18,52\(\cdot\)10\(^{-6}\) Pa\(\cdot\)s Viscosidade do ar a 23\(^{\circ}\) C
\(\rho\) 973 kg/m\(^{3}\) Massa específica do óleo de silicone
\(\rho_f\) 1 kg/m\(^{3}\) Massa específica do ar
\(g\) 9,80 m/s\(^{2}\) Aceleração gravítica em Lisboa
\(d\) A medir Distância entre placas

Correções

Temperatura ambiente

No caso da temperatura ambiente se afastar muito de 23\(^{\circ}\) C, o valor da viscosidade do ar terá de ser corrigido.[6]

Dimensão das gotas

A Lei de Stokes não é exata quando as dimensões dos corpos esféricos forem comparáveis à distância média entre as moléculas do ar. Nestas condições, Millikan verificou que a viscosidade \(\eta_{ar}\)deveria ser substituída por:

[math]\eta_{ar}' = \frac{\eta_{ar}}{1 + b/(p\,R)}[/math] \(\quad\quad (12)\)

em que a constante \(b=7,88\cdot 10^{-3}\) Pa\(\cdot\)m, \(p\) é pressão atmosférica expressa em pascal e \(R\) é o raio da gota em metros. O valor corrigido \(q'\) será determinado a partir do valor experimental \(q\) por

[math]q' = q\, \left(\frac{\eta_{ar}'}{\eta_{ar}}\right)^{3/2} =q\, \left(\frac{1}{1 + b/(p\,R)}\right)^{3/2}[/math] \(\quad\quad (13)\)

Figuras dos aparelhos da montagem experimental

Vista do aparelho de Millikan
Equipamento para determinação da carga das gotas.
Gerador de alta tensão DC regulável.
Fig. 4 - Equipamento para determinação da carga das gotas. Fig. 5 - Gerador de alta tensão DC regulável.

Procedimento experimental

Material

  • Célula de Millikan com gerador de alta tensão DC regulável
  • Atomizador e óleo de silicone
  • Cronómetro
  • Nível de bolha de ar
Electrocution-Safety.png
Atenção: Este trabalho envolve o uso de fontes de alta tensão (até 500 V DC). Assegure-se de que cumpre rigorosamente as medidas de segurança com equipamentos eléctricos, em particular:
  • Compreenda os riscos inerentes a tensões e correntes elevadas
  • Não pegue nos cabos ou conectores pela partes condutoras, apenas pelas partes isoladas
  • Assegure-se de que as fontes de tensão e corrente estão dsligadas antes de efectuar qualquer alteração nas montagens eléctricas
  • Em caso de dúvida, chame o docente

Trabalho preparatório

  1. Preencha os objectivos do trabalho que irá realizar na sessão de laboratório.
  2. Preencha o quadro com as equações necessárias para o cálculo das grandezas, bem como as suas incertezas.
  3. Desenhe um diagrama das forças a que uma gota está sujeita durante a experiência. Após a experiência, acrescente uma estimativa dos valores dessas forças usando valores típicos obtidos durante a experiência, e anexe tudo ao relatório final.

Montagem experimental

Efectue a montagem de acordo com a Fig. 6. Chame o professor antes de ligar os aparelhos à corrente eléctrica.

Fig. 6 - Esquema da montagem da experiência de Millikan. 1 - Célula de Millikan; 2 - lâmpada; 3 - gerador de alta tensão regulável; 4 - cronómetro.

Determinação da tensão de equilíbrio

  1. Depois de verificar que a célula está horizontal, meça o distância entre placas, \(d\). Tente focar o microscópio na zona onde as gotas irão "flutuar". Atenção: o microscópio amplia a imagem e a escala por 2\(\times\).
  2. Coloque o potenciómetro que controla a alimentação das placas do condensador no valor mínimo de tensão eléctrica.
  3. Verifique se o interruptor de inversão da alimentação do condensador está na posição "Neutra". Rode o potenciómetro para uma posição que permita, quando ligar o interruptor de inversão, estabelecer um campo eléctrico entre as placas do condensador.
  4. Utilizando o pulverizador junto do orifício da célula, produza uma pequena "nuvem" de gotículas de óleo. Observe através do microscópio o movimento das gotículas em frente do retículo, ajustando a focagem se necessário.
  5. Ligando o interruptor e variando a intensidade e o sentido do campo eléctrico, verifique se existem gotículas eletrizadas.
  6. Escolha uma das gotas e, ajustando a tensão, manipule a sua posição vertical de modo a que esta fique colocada numa determinada divisão do topo do retículo, imobilizando-a de seguida. Registe o valor da tensão.

Determinação da velocidade limite e da carga

  1. Anule o campo eléctrico e verifique que a gota cai sob acção da gravidade (com velocidade limite). Com um cronómetro, meça o tempo necessário para que a gota percorra \(N>4\) divisões do retículo.
  2. Repondo o campo eléctrico, conduza a gota para a posição inicial para medir o tempo pelo menos duas vezes.
  3. Troque de posição com o colega para repetir este processo para várias gotas, tentando escolher as gotas de menor carga.
  4. Para cada gota, calcule a velocidade limite média e a respectiva incerteza, usando esse valor para estimar o raio e a carga. Calcule a carga corrigida pela viscosidade.
  5. De modo a obter resultados mais fiáveis, tente assegurar-se de que as diversas gotas apresentam valores experimentais diferentes. Duas gotas com valores da velocidade limite e raio muito semelhantes têm provavelmente a mesma carga, pelo que deverá repetir as medições para uma gota diferente.
  6. Considere a expressão acima (Eq. 11) para a carga da gota e pondere quais as características ideais para obter resultados significativos, isto é, que contribuam para os objectivos da experiência. As gotas deverão ter \(R\) grande ou pequeno? A velocidade-limite deve ser grande ou pequena? E a tensão aplicada? Use estes critérios para decidir se vale a pena completar as medições para uma dada gota, após as medições preliminares.

Análise, conclusões e comentários finais

Discuta a qualidade dos dados obtidos e as conclusões que pode retirar desta experiência. Comente também sobre as condições de realização da experiência, dos equipamentos utilizados e a influência de erros aleatórios e sistemáticos, identificando-os. Supondo que não conhecia o valor tabelado da carga do electrão, e apenas a partir dos resultados obtidos, poderá tirar conclusões sobre a quantificação da carga eléctrica?

Notas

  1. Com número de Reynolds \(Re= \frac{\rho v L}{\eta}\) inferior a \(\simeq 100\)
  2. Uma vez que o movimento de queda ocorre unicamente ao longo do eixo vertical, podemos implicitamente passar da descrição vectorial para uma escalar.
  3. Ver notas de apoio às aulas teóricas.
  4. No caso da partícula estar carregada negativamente obteríamos o mesmo resultado invertendo o sentido do campo eléctrico.
  5. Nomeadamente, se a distância entre as placas for muito menor que as suas dimensões laterais.
  6. Utilize por exemplo a calculadora online: http://www.lmnoeng.com/Flow/GasViscosity.htm

Ligações externas