Notas de apoio às aulas teóricas
Derivadas parciais
Quando uma função depende de mais do que uma variável, é possível calcular a sua derivada segundo cada uma dessas variáveis. Por exemplo, uma função f≡f(x,y) que depende das variáveis x e y tem duas derivadas parciais:
- Derivada parcial segundo x:∂f∂x
- Derivada parcial segundo y:∂f∂y
Para calcular cada uma das derivadas parciais, tratam-se as outras variáveis como se fossem uma constante. Note que as derivadas parciais são assinaladas com o símbolo ∂ em vez de d.
Exemplos:
- f(x,y)=x3y2⟹∂f∂x=3x2y2,∂f∂y=2x3y
- f(x,y)=e−ysin(x)⟹∂f∂x=e−ycos(x),∂f∂y=−e−ysin(x)
Resolução de equações diferenciais lineares do primeiro grau
Este tipo de equações aparece, por exemplo, em situações em que uma força (tipicamente o atrito) é proporcional à velocidade, tais como a queda de uma gotícula de óleo na Experiência de Millikan. A equação envolve a primeira derivada, um termo linear e um termo constante, e podemos escrever a seguinte expressão genérica:
em que f≡f(t) é uma função que só depende de uma variável t (por exemplo, o tempo) e a,b e c são constantes. Para resolver esta equação, vamos recorrer a uma função auxiliar g(t) definida como:
Se derivarmos esta igualdade verificamos que as derivadas de ambas as funções são iguais:
Inserindo estas duas igualdades na primeira equação, podemos escrevê-la na forma
A última igualdade apresenta-nos então a questão: qual a função cuja derivada é igual à própria função, multiplicada por uma constante? Não é difícil concluir que é a função exponencial, mais concretamente:
é a solução daquela equação, em que A é uma constante que é necessário introduzir, e que depende das condições iniciais do sistema. Agora que determinámos a solução para g(t), podemos calcular a função f(t) original:
Para determinar o valor de A, temos que ter alguma informação sobre o sistema. Por exemplo, sabendo que o valor inicial da função f(t) é f(0)=f0, podemos escrever:
Inserindo esta expressão no valor de A e simplificando, temos finalmente a solução geral da equação original:
Quando t→∞ a função atinge um valor limite flim=b/c, independentemente do valor da velocidade inicial. Podemos ainda definir um “tempo médio” τ=a/c para a função exponencial. A tabela em baixo mostra a aplicação da resolução acima à Experiência de Millikan.
Exp. Millikan | |
---|---|
Eq. diferencial | mdvdt=mg−knv |
Função f(t) | Velocidade v(t) |
df/dt | Aceleração a(t)=dv/dt |
a | m |
b | mg |
c | kn |
A | f0=Vel. inicial=0m/s |
Expressão | mgkn[1−exp(−knmt)] |
flim | vlim=mgkn |
τ | mkn |
A figura mostra a evolução de uma função v(t), solução de uma equação deste tipo, e resume a interligação entre todos os parâmetros apresentados. Note que os eixos são normalizados, isto é, os seus valores são divididos por constantes características do problema (neste caso, o tempo médio τ e a velocidade limite vlim.
Resolução de equações diferenciais lineares do segundo grau
Este tipo de equações aparece frequentemente em sistemas oscilatórios, como o oscilador harmónico (livre ou com atrito), que descreve o comportamento de sistemas físicos como o pêndulo (no limite de pequenas oscilações) ou o sistema massa-mola. Na ausência de atrito e de outras forças não conservativas, a equação envolve a segunda derivada e um termo linear do tipo
em que f≡f(t) é uma função que só depende de uma variável t (por exemplo, o tempo) e a e b são constantes positivas. Reescrevendo:
Podemos exprimir a questão desta forma: qual a função (ou funções) cuja segunda derivada é igual à primeira, multiplicada por uma constante negativa? É fácil verificar que há duas soluções possíveis: as funções seno e cosseno, ou seja, genericamente f(t) pode ter a forma geral
onde A e B são duas constantes que é necessário introduzir; por enquanto são desconhecidas, mas podemos determiná-las se soubermos as condições iniciais do sistema – a posição inicial, a velocidade inicial, etc.
Vamos verificar que esta expressão é, de facto, a solução da equação diferencial acima. Para simplificar a escrita, definimos ω0=√ba. Temos assim:
Vemos assim que a expressão encontrada é a solução da equação diferencial. É no entanto possível escrever esta expressão numa forma mais prática usando a seguinte igualdade trigonométrica
Fazendo isto, a solução geral da equação pode ser escrita numa forma muito simples, e em vez de 𝐴 e 𝐵 ficamos com outras duas constantes mais intuitivas[1]:
Esta expressão permite verificar que a solução geral do oscilador harmónico livre tem as seguintes características:
- Varia no tempo de forma sinusoidal
- Tem uma frequência angular ω e consequentemente um período T=2π/ω
- A constante A0 é a amplitude máxima do movimento
- A constante ϕ0 é a fase inicial do movimento
A tabela seguinte lista o valor de alguns dos principais parâmetros para o caso do pêndulo e do sistema massa-mola.
Pêndulo | Massa-mola | |
---|---|---|
Equação diferencial | ¨θ=−gℓθ | ¨x=−kmx |
Função f(t) | Ângulo θ(t) | Posição x(t) |
¨f | Acel. angular α(t)=¨θ | Aceleração a(t)=¨x |
a | ℓ | m |
b | g | k |
A0 | Amplitude máxima θ0 | Amplitude máxima A0 |
ϕ0 | (fase inicial) | (fase inicial) |
ω0 | √g/ℓ | √k/m |
Notas
- ↑ Pode verificar que é possível escrever a expressão deste modo, por exemplo calculando os valores de A0 e ϕ0 a partir dos valores de A e B. Sugestão: considere as expressões para f(0) e f′(0) num caso e noutro, e iguale-as respectivamente.